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Titenaccio, esse paradoxo ambulante

12/09/2011

Dificilmente o nosso Corinthians conseguirá livrar-se tão rápido de Tite. Afastá-lo seria uma daquelas injustiças entre aspas. Algo que nem o Santos que mandou o Adilson pastar faria.

São os jogadores a maior razão para mantê-lo, pois, pateticamente, engolem aquela conversa fiada enjoada das coletivas.

Eu prefiro técnicos com a sinceridade do Parreira ou do Telê ou até, do Mano. Prefiro um cara que explique os porquês das derrotas e das vitórias. Treinadores que desviam o assunto seja por erros normais da arbitragem (como Felipão, Luxa, Cuca etc.), seja para falar sobre os raios telúricos (Tite), só me causam desconfiança e forçam dirigentes a criarem factóides para desviar a atenção do elenco, como, por exemplo, fazia Citadini à sua época de diretor ou como teve Andres de fazer, pois o diretor de futebol atual é café-com-leite.

Taticamente, e isso é óbvio, Tite evoluiu. Ainda não passa de um técnico mediano, mas evoluiu.

Tite é fraco no plano tático. Difícil não aceitar tal afirmação. Contudo, PARADOXALMENTE, seu sistema tático foi decisivo para que um elenco limitado vencesse o campeonato.

Olha o breque da paradoxabilidade: se o técnico não é bom taticamente, como pode o seu sistema ser responsável pela conquista de um dos campeonatos mais difíceis do mundo?

Em espírito, acho que TIte partiu do Muricybol e seu posicionamento defensivo numeroso e conservador. Acho até, e isso é um elogio, que Tite evoluiu o sistema do Muricy tri-campeão ao abandonar o 3-5-2 e arriscar formações ofensivas ao inicio dos jogos em casa. No sistema Tite-Muricy, amplamente discutido ao longo do ano, a ideia é que para vencer, 1º você não pode perder e perder só é possível se você toma gols.

Na proposta tática de Tite, a equipe inteira recua congestionando o setor de criação adversário, a terra sagrada titeana. A armação adversária fica sufocada como vemos na figura ao lado. Até mesmo o chuveirinho é complicado, pois as laterais também têm seu espaço bem encurtado. Por aí fomos assumindo a posição de melhor defesa do campeonato. Em uma de nossas mesas, o sistema foi chamado de Titenaccio pelo Bruno, inspirado pelo Catenaccio de Helenio Herrera.

Táticas inteligentes são aquelas em que você ocupa espaços e economiza energia, como o 4-3-3 do Mourinho ou o 3-4-3 do Guardiola. No caso de Tite, o sistema é tão exagerado no recuo, que funciona, em última análise, com qualquer jogador que se escale, seja ele bom ou ruim. Basta congestionar. Notem que o sistema sobreviveu a uma das linhas de zaga mais fracas da história do clube. Tanto isso é verdade, que esses jogadores foram aviltados pelo senso comum, mas que não sobrevivem a uma análise técnica mais detalhista.

Se o sistema teve a face vitoriosa de impedir derrotas, por outro, teve o custo caríssimo de matar qualquer possibilidade de contra-ataque, tal a distância que o Camisa 10 e o Camisa 9 ficam do campo adversário.

Creio que os amigos devem ter entendido que não há contradição: o sistema não é taticamente inteligente enquanto custoso no aspecto ofensivo e físico, mas foi muito inteligente ao se aproveitar de jogadores medianos, invertendo a lógica de que nos pontos corridos você precisa de 22 titulares.

Na parte ofensiva, gostamos quando ele começava o jogo num surpreendente 4-2-4, como a Juve faz hoje (apesar do seu treinador chamar de 4-4-2, mas isso é outra história). Como mostra a figura, Danilo tem estatura para jogar bem enfiado e disputar bolas pelo alto. Como o usual no Brasil é marcação individual no trequartista adversário, ao invadir a área logo de saída, Danilo puxava o volante e abria um buraco no meio altamente explorável, justamente na melhor região de armação. Não é estranho Paulinho ter seu melhor campeonato com Tite.

Esse 4-2-4 era raro. O usual era um 4-2-3-1 em que os meia-extremos jogavam muito abertos, os volantes não subiam, nem os laterais, dificultando todo o trabalho do Camisa 10. Perdíamos a paciência com esse sistema que meramente insistia em alçar bolas para o Liédson, pois não tinha, no campo, um desenho que facilitasse as tabelas e penetrações.

Mas, nota zero mesmo, ele tira no maldito posicionamento dos escanteios.

Para Tite torna-se um bom tático (o que é raro no Brasil), ele deverá ser capaz de montar um sistema energeticamente mais eficiente, onde os jogadores tenham uma boa distribuição em campo e possam retomar a bola o mais rápido possível, ao menor custo ofensivo.

Tite não deve mudar muito na próxima temporada. Mas como é comum no futebol brasileiro, 9 em 10 técnicos utilizarão esse mesmo sistema no próximo ano!

15 Comentários leave one →
  1. 12/10/2011 18:29

    O esquema do Tite foimontado pensando em ganhar um campeonato de pontos corridos, onde você é campeão se não tomar gol. O futebol fica mais trancado, você chama seu técnico de retranqueiro e o seu time acaba ganhando a maioria das partidas na base do 1×0, 2×1… sem contar os empates fora de casa. É broxante, mas funciona até com elencos medianos (time ruim não tem tática que ajude).

    A diferença entre pontos corridos e mata-mata é exatamente essa: nos pontos corridos, ganha quem leva menos; no mata-mata, ganha quem faz mais. E pra ganhar campeonatos de mata-mata, precisamos de um esquema que favoreça isso. É só lembrar do Corinthians 2009, um time fraco defensivamente mas muito efetivo ofensivamente, graças ao esquema do Mano e ao elenco, que peça por peça é melhor que o de hoje.

    O que eu quero dizer é: com Tite, ganharemos mais 3 Brasileiros, mas nenhuma Libertadores. A não ser que forças telúricas passem a agir, esse será o nosso destino. Eu não tenho dúvidas que se a maldita fosse em pontos corridos, estaríamos fácil nas cabeças.

    Tite é um bom treinador, mas não tem a visão de jogo necessária pra um mata-mata. É aquela substituição bem-feita, a leve mudança de posição de um jogador, que fazem o time sair de situações de aperto e ganhar um jogo, e isso não é da natureza do nosso treinador.

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    • 12/10/2011 18:35

      É verdade, esse sistema funciona em pontos corridos; o Muricy, que usa esse tipo de coisa, nunca foi bem em mata-mata (tirando essa libertadores com o Neymar no modo Turbo).

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  2. Nicolas permalink
    12/10/2011 17:28

    Eu penso que este sistema, em que você tenta congestionar a sua intermediária, tende a colocar uma sobrecarga sobre os meias e os atacantes. Eles ficam obrigados a recuar e, posteriormente, a criar as jogadas ofensivas. E, quando sobem para o ataque, ficam quase sem pontos de apoio, pois o ataque é quase um deserto. Então, deve até haver uma certa tolerância com os atacantes, já que o sistema os desfavorece.

    Congestionar a sua intermediária é uma tática defensiva efetiva. Todos os técnicos podem usá-la em um ou outro momento. O Mourinho usou-a quando dirigia a Inter contra o Barcelona, quando perdeu um jogador por expulsão. Lembro-me de que o Muricy, quando dirigia o Palmeiras, usou-a contra o Cruzeiro, na mesma circunstância de perder um jogador por expulsão. Não há problema em adotar esta tática em circunstâncias especiais, o problema é querer usá-la sempre.

    O Tite não gosta de assumir o seu defensivismo em público. Prefere falar em “equilíbrio” e tal. Na condição de uma pessoa inteligente e articulada, não quer ficar com o rótulo de “retranqueiro”. Com a conquista do título brasileiro, não deverá mudar os seus esquemas táticos. A projeção é de novas partidas como foram estas últimas do Brasileirão. Preparem-se para novas e fortes emoções.

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  3. yunki permalink
    12/10/2011 16:14

    Bem, mas muito bem na boa mesmo, esse Tratado todo foi para “justificar” como um elenco apontando por ti entre 5o e 6o melhores do BR-11, salvo engano, chegou ao caneco?
    Não custa nada assumir que o elenco porcolino era bem meia-boca; que o elenco fashion week era bem denorex, isto é, parecia que era bão, mas só parecia; que o elenco urubu era curto demais, etc e que elenco “superior” ao nosso só a flor carioca tinha e que nem o bacalhau carioca tinha realmente um elenco superior ao nosso.
    Quanto ao lambari, se tivessem realmente elenco, não teriam abandonado o BR-11 que, aliás, foi sim ato de inteligência pq não se dá all in sem fazer conta do custo x benefício e possibilidade de se ganhar.
    Esse miolo de zaga que vc considera um dos piores é pior mesmo que Durval+EduDracena? Ou Rodolfo+Xandão?
    Nosso elenco não era uma brastemp, mas os dos outros eram bem denorex.
    Nosso treinador, Adenor, não era grande coisa e continua sem ser uma maravilha, mas os outros treinadores tampouco são.
    Por fim, por que será que o Alessandro, outro guerreiro, hj é tão chamado de Avenida ou de SemParar?
    Humildade, colega.

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  4. Emboava permalink
    12/10/2011 12:50

    Ele vai ter que inovar, pois o ano todo ele jogou dessa forma rara… então já está um pouco manjada… então eh muito mais difícil ganhar os jogos jogando assim… espero que ele assista mais jogos do Mourinho, Guardiola e Fergusson… pra ver se pode copiar algum OFENSIVO interessante…

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  5. Paulo permalink
    12/10/2011 11:38

    Meu conhecimento tático de futebol não é suficiente para discussões em alto nível com a maioria dos frequentadores do blog. Até dois anos atrás não sabia nem bem o que era um volante ( impressionante o que o Google não faz, hehehe ), e, desde então, tenho lido alguma coisa a respeito, especialmente sobre a evolução dos sistemas táticos. A impressão que tenho, a partir desse parco conhecimento adquirido – se é que se deve falar a respeito de assunto que não se domina inteiramente ou suficientemente -, é a de que técnicos como Tite, Mano e Parreira são muito parecidos: teóricos do futebol, sem muito conhecimento técnico e tático quando iniciaram na atividade, mas que acabaram obtendo algum sucesso na carreira em virtude, precisamente, de uma formação intelectual mais elevada, por exemplo, do que as de um Muricy ou Luxemburgo. Isso lhes propiciou – e propicia – , além de algum conhecimento de psicologia de grupo que vá além do mero futebolês – próprio dos Luxas e Muriçocas -, tergiversar, escamotear, dissimular, enrolar, fugir do assunto de maneira a não deixarem claro, especialmente diante da imprensa, dos dirigentes ou do público em geral ( e, muitas vezes, também diante dos boleiros ) o seu óbvio desconhecimento técnico e tático, muitas vezes. Com isso, foram ganhando tempo e, como não são lesos, aprendendo na prática, o que lhes permitiu uma sobrevida sem que tenham chegado a ser unanimidades – e duvido que venham um dia a sê-lo. Sem essas qualidades, Tite, como Parreira e Mano, depende para o seu sucesso profissional, fundamentalmente, de tempo para que o elenco assimile o que deseja e passe a jogar de forma mais ou menos automática, o que, me parece, é meio caminho para o sucesso relativo como treinador de qualquer equipe, independentemente da formação ou sistema tático adotado. Notem que esse desconhecimento a que me refiro revela-se de forma mais dramática numa substituição mal feita, durante uma partida, ou numa escalação equivocada. Esses eventos, porém, têm impacto reduzido num campeonato de pontos corridos, por exemplo, mas podem ser fatais num mata-mata, como ocorreu com Mano no Maracanã ( Libertadores do ano passado ), com Tite contra o Tolima, ou com Parreira diante da França ( 1998 ). Numa Libertadores, portanto, a partir das fases posteriores, estaremos em desvantagem com Tite. Espero, portanto, que não tenhamos como contendores um time com um treinador com esse conhecimento mais amplo que nosso treineiro não possui, e, de resto, que os nossos jogadores façam a diferença em campo.

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  6. Ricardo Quintana permalink
    12/09/2011 20:24

    de acordo com sua avaliação presumesse que os outros times estão fudidos então , pq se o Tite é essa porcaria que vc diz , imagina os outros .
    nós corinthianos somos muito corneteiros , chega a lembrar os porcos , nunca ta bom , falo isso pq ja vi cara cobrar a libertadores ( meus Deus ) , é tempo de comemorar e não de cobrança . Se eu fosse jogador ou qq outra coisa no clube e cara viesse me cobrar essa semana mandaria toma no cu sem pensar .

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  7. Daniel CMS permalink
    12/09/2011 18:16

    Lembro muito bem do Parreira no Corinthians: dizia que enquanto mantivéssemos a posse de bola, economizaríamos energia e o adversário não teria como nos atacar.

    Em termos conceituais, o esquema do Parreira era dos mais inteligentes que vi no Corinthians.

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    • 12/09/2011 19:04

      Exato e casa bem com aquela frase do Guadiola: “somos um péssimo time sem a bola…”

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      • 12/10/2011 10:05

        mas essa é a base do Barcelona: manter a posse. mas a questão é como fazer isso…ninguém precisa arriscar passe (só o iniesta e o messi já quase na entrada da área); forma uma linha de 7 no meio-campo, estilo handebol, e toda vez que alguém recebe a bola outros 2 se apresentam a menos de 4 m. Você ficando com a bola 70% num jogo de 60 corrido e que aos 30min do segundo tempo o jogo tá resolvido, você precisa marcar o adversário por só 15 minutos durante o jogo. Um dos problemas do esquema do Tite é que como o time dele não fica tanto com a bola (e como vc citou não consegue saída pro contrataque quando rouba a bola) essa marcação aplicada cansa demais o time e todo mundo fica estourado eventualmente…

        e hoje tem um p* jogo para ver embate tático hein: real x barça
        http://www.cachacadopovo.blogspot.com

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  8. Marcus Vinícius permalink
    12/09/2011 18:12

    Muito bom!
    Algo que me preocupa Alvaro, é a pré-temporada. Acho que ela foi decisiva para a tragédia no começo desse ano (até mesmo porque a pré libertadores era bem no começo do ano, tivemos menos tempo de preparação).
    Vi que a reapresentação está marcada para o dia 4/01. Espero que o Tite saiba planejar bem esse período.

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